O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, enfrenta um período de incertezas quanto à sua permanência à frente da companhia. Os rumores sobre sua saída ganharam força nos últimos dias após desentendimentos públicos com o ministro de Minas e Energia, Alexandre da Silveira, e após a Petrobras reter a distribuição dos dividendos extraordinários para acionistas. Na noite desta segunda-feira 8, o presidente Lula se reuniu com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, antes de decidir o futuro de Prates.
Diante do impasse, o AGORA RN ouviu dois especialistas sobre os efeitos práticos que a saída de Jean Paul Prates da presidência da Petrobras causaria, não apenas à direção da própria estatal em nível nacional e do Rio Grande do Norte, como também ao desenvolvimento econômico e administrativo desta.
O economista Janduir Nóbrega ressalta a relevância da manutenção de critérios técnicos na seleção da liderança da Petrobras.
“O principal é a perda de credibilidade e governança. Em uma saída via processo diferente do que está inserido no Estatuto e na dinâmica própria de escolha definida pela Petrobras, o fato sinaliza uma possível tendência de interferência política causando, dentre outros, a diminuição de valor da empresa”, destacou.
Segundo o economista, essa interferência política pode gerar um desequilíbrio mercadológico significativo. “Somado a isso, como consequência, um desequilíbrio mercadológico que poderá ficar muito mais caro à sociedade brasileira do que tem sido o estrago causado pela Operação Lava Jato, por exemplo”, alertou Nóbrega.
Já o cientista político Thiago Medeiros enfatizou o fato de o presidente Lula ter buscado para comandar a Petrobras um líder que reunisse conhecimento técnico, mas também as relações sólidas com o mercado. E lembrou que Jean se destacou no Senado, sendo relator e proponente de diversos projetos relacionados às energias.
“Se mostrou, durante sua trajetória no Senado, uma ideia muito forte de uma Petrobras forte e voltada como empresa de energia, não apenas de petróleo”.
Para ele, a trajetória de Jean na presidência da Petrobras foi marcada por uma valorização das ações da empresa. “Havia quedas mais voltadas para questões políticas do que para questões de gestão”, ressaltou, destacando que, apesar dos embates públicos, como os ocorridos com o ministro de Minas e Energia, Jean conseguiu blindar a Petrobras de interferências políticas ao escolher uma diretoria técnica competente.
Thiago defendeu ainda que Jean Paul Prates não apenas protegeu a estatal de turbulências políticas de curto prazo, mas também delineou um plano estratégico de longo prazo, vislumbrando uma Petrobras como empresa de energia renovável. “Ele pensa em 30, 40, 50 anos, posicionando a Petrobras para o declínio do petróleo. Por ser um nome respeitado e bem-visto pelos acionistas, a saída dele provavelmente resultará em uma queda nas empresas”, alertou.
IMPACTO PARA O RN. Para o Rio Grande do Norte, estado com grande potencial em energias renováveis, a gestão de Jean na Petrobras tem sido crucial, ele avalia. “Ele olha para o estado que tem o maior potencial de energias eólicas, olha para o Rio Grande do Norte”, destcou, lembrando que a saída deste pode comprometer investimentos, reformas e novos projetos no Estado.
“Se a Petrobras sai das mãos de Jean Paul, dificilmente teremos um investimento tão significativo no Rio Grande do Norte”, afirmou o cientista político.
Jean é considerado uma indicação técnica por ter experiência no setor de petróleo e energia.
O ex-senador foi secretário de Estado de Energia do Rio Grande do Norte e, sob sua gestão, o Estado alcançou a autossuficiência energética. Prates também foi assessor jurídico da Petrobras na década de 1980.
Em nota, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) criticou o que chamou de “processo de espancamento público”, sofrido por Jean Paul Prates. “A FUP reconhece a atuação da gestão Prates em busca do fortalecimento da Petrobras como promotora de investimentos, capazes de contribuir para a geração de emprego e renda dos brasileiros”, diz a nota.
“Destacamos que o presidente da Petrobras restabeleceu o diálogo com a categoria petroleira e promoveu o início da implementação de uma nova e importante política de melhoria das condições de vida do trabalhador brasileiro, como o fim da nociva política de preço de paridade de importação (PPI)”, finalizou a federação, que disse que acompanha o desenrolar dos acontecimentos.
Após reunião com Lula, Haddad afirma que não discutiu troca de Jean Paul Prates.
Após ser convocado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para reunião sobre a crise no comando na Petrobras, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se esquivou, em entrevista a jornalistas, e afirmou que fala com o chefe do Executivo apenas sobre cenários econômicos envolvendo a petroleira.
“Eu não discuto isso (troca de comando da estatal) com o presidente. O que eu discuto com o presidente são cenários econômicos da empresa e do Executivo”, disse.
“O trabalho não para”: com essa introdução, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates divulgou o andamento de obras da estatal nesta segunda-feira 8, em meio ao processo de fritura que sofre por ala do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Até ontem à tarde, eram cinco publicações em redes sociais com esse título, mostrando obras em refinarias e estaleiros pelo Brasil. A dificuldade em deslanchar entregas para o presidente Lula é um dos argumentos dos opositores do executivo.
Em suas publicações, Prates mostra obras nas refinarias de Paulínia (SP), Cubatão (SP) e Ipojuca (PE), no Gaslub (antigo Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro) e no estaleiro Brasfels, em Angra dos Reis (RJ), que constrói módulos para a plataforma P-78.